sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ciberjornalismo

As sequelas da rápida expansão da World Wide Web têm reflexos em todas as áreas referentes ao social, logo também os mass media tradicionais foram afectados. Ou seja, o aparecimento de novos meios de comunicação social introduziu novas rotinas e novas linguagens jornalísticas. Parte-se assim do pressuposto de que a interacção é um elemento incontornável da própria comunicação mediada por computador. Portanto, a Internet vem oferecer a oportunidade da informação surgir ligada ao entretenimento e para um público especializado que, foge à massificação, pois exige escolher o que quer saber. Pelo autor Helder Bastos, «a rede das redes - Internet - não se enquadrava na ideia que os investigadores tinham de mass media. Historicamente mass media é sinónimo de produção centralizada e estandardizada de distribuição de produtos de informação e entretenimento a largas audiências por vias separadas.»

Emerge um novo jornalismo, o jornalismo digital: “Trata-se de um jornalismo multimédia que usa como suporte as redes informáticas e que tem como característica essencial o facto de ser massivo e interactivo, simultaneamente, ao contrario da TV, que é massiva mas não interactiva, ou do telefone, que é interactivo porém não massivo. Outra importante característica do jornalismo digital, que o distingue do jornalismo tradicional, é o facto de as noticias, neste novo formato, não serem «circuladas» mas sim «disponibilizadas»” (Aguiar, 1997; citando Marco Palácios).

A Internet é que impingiu o aparecimento deste novo conceito de jornalismo. A oportunidade de estarmos todos conectáveis em rede deu azo a um impulso digital nas redacções. “Ciberjornalista seria um profissional que utiliza a Internet (o ciberespaço) como ferramenta de trabalho. Não que ele tenha que utilizar só esse meio, mas que tenha intimidade com a rede e a use em apoio/complemento às maneiras tradicionais de se obter informação e contactar as pessoas” (Ibid.)

Os jornais digitais podem criar acessos à informação que está para além da oferecida em papel, pois a comunicação online é bidireccional, permite interactividade. “A imprensa digital permitirá aos jornalistas informarem melhor, proporcionando noticias contextualizadas, direccionadas e valorizadas. Os leitores disporão de uma informação mais livre, plural e rigorosa. Disporemos de um jornal elaborado com um maior ou menor grau de personalização segundo as nossas preferências, dependendo do dia da semana ou do humor com que estivermos” (Terceiro, 1996:161) A partir do jornalismo electrónico há uma possibilidade de uso de vídeo, sons e de mais imagens com melhor qualidade, e a partir de um ciberjornal os leitores podem comunicar, por chats ou pelos comentários de partilha de opinião. “A Internet está em vias de transformar a prática do jornalismo. Para seduzir um público jovem, que tem tendência a abandonar os quiosques, a maioria dos grandes diários lançou-se em força na rede. A fim de não difundirem simples réplicas dos jornais impressos, deram provas de imaginação e descobriram uma outra lógica, novas estruturas que transformam em profundidade todo o campo da informação” (Agostini, 1996:26). Para além dos já referidos vídeos, sons, imagens, o ciberjornalista dispõe de maior número de ferramentas de trabalho com as flashes, 3D, gráficos e hiperligações. Não esquecendo que o jornal digital tem maior destreza para distribuição, personalização, periodicidade e informações úteis que são mais facilmente concebidas e actualizadas.

O verdadeiro problema do ciberjornalismo é que poucos jornais se atrevem a explorá-lo em toda a sua extensão, ”O que eles não entenderam é que a Internet é um meio inteiramente novo. Quando visitamos o site de um media online, não temos a experiência de ler um jornal. Temos uma experiência online, e isso é uma coisa muito diferente” (Lasica,1996). Isto deve-se à desconfiança em torno de todo o potencial que a Web parece prometer, pois coloca em causa a continuidade de um jornalismo escrito para papel e portanto dependente de fechos de edição, de restrições temáticas e espaciais, etc. Portanto a barreira a ultrapassar é o facto de hoje em dia verificarmos várias vezes que o conteúdo do jornal digital não difere em nada do conteúdo do jornal tradicional, acabando assim por limitar um meio, a Internet, que não se encontra limitado como uma publicação em papel. “Os editores de jornais e revistas pegam em texto criado para as edições em papel e limitam-se a colocá-lo online, muitas vezes sem as imagens, tabelas e gráficos… Um conteúdo online deverá incluir uma grande quantidade de gráficos, fotografias e ligações a informação relacionada. À medida que as comunicações se tornarem mais rápidas e a oportunidade comercial mais evidente, serão incluídos mais elementos de áudio e de vídeo” (Gates, 1995:161). Como vários autores referem “Não há razão que justifique que os jornalistas tenham de reportar estórias apenas uma vez por dia. A informação online deveria consistir nas pessoas obterem notícias e informação actualizada quando quisessem ou necessitassem, não quando isso é conveniente para o ciclo de produção de uma publicação na web” (Ibid.). O jornalismo online tem de arranjar uma forma de conciliar o tradicional com a nova era do ciberespaço. Tem que se impor a si mesmo a exploração de novas formas de interactividade para a Internet não ser um meio subaproveitado. Pois com uma diferente abordagem consegue-se informação muito mais personalizada. “Têm que ir mais longe, oferecer mais, conectar com um novo tipo de audiência de maneiras que são frequentemente mais imprevisíveis e não tradicionais. Têm de tentar novas coisas. Quebrar algumas regras. Desbravarem algum território. Fazerem coisas que lisonjearão os seus publishers e farão as suas redacções ameaçarem com rebelião. Mas ao fazerem-no, não podem – não devem – abandonar os princípios do bom, tradicional jornalismo. Caso o façam, não serão mais fiáveis que a Microsoft e a América Online e as outras fontes de noticias não-jornalísticas na web” (Fred Man, 1997).

Concluindo, esta forma de jornalismo mais recente, o webjornalismo é a modalidade na qual as novas tecnologias já não são consideradas apenas como ferramentas, mas, sim, como constitutivas dessa prática jornalística. Expandido por meio de conexões banda larga, proliferação de plataformas móveis, redacção descentralizada, uso de bases de dados, adopção de sistemas que permitam a participação do usuário, produtos criados originalmente para veiculação no ciberespaço, conteúdos dinâmicos formatados em narrativas multimédia, e experimentação de novos elementos conceituais para organização da informação, um produto jornalístico digital pretende ser uma experiência mais autêntica e envolvente para o utilizador. “Em resumo, o jornalismo electrónico irá encontrando na própria cidade electrónica a sua fonte de notícias. Ainda que inicialmente se limite a reproduzir na rede os seus conteúdos habituais, desenhados para outro meio de comunicação e para outro espaço social, à medida que for aumentando o número de pessoas que circulam pela Telépolis os conteúdos e os formatos ir-se-ão modificando, adaptando-se ao novo espaço social” (Echerría, 1996). “Um jornalista com um iPhone na mão pode produzir matérias em qualquer lugar e enviá-las directamente para a Internet ou ainda para ser editada e publicada na redacção.” (in http://jornalismo.wordpress.com ).

sábado, 10 de maio de 2008

Slide Show - Semana da Queima 08*

Jornalismo Assistido por Computador

O Jornalismo viu o Computador e a Internet aparecerem e com estes houve toda uma revolução a nível de métodos de trabalho e contacto entre as pessoas. Assim o Jornalismo teve que mudar, que evoluir, teve que parar de se sujeitar apenas à ideia de um jornalista andar na rua trabalhando como investigador, seguindo pistas, declarações e testemunhos que o levariam à verdadeira contextualização do facto. Este processo não é considerado errado, no entanto já não conseguia acompanhar o ritmo a que o Mundo andava, a Internet transformou o Mundo, deu-lhe um grande balanço, deu-lhe progressão e maior rapidez de conectividade entre as pessoas. Claro está que uma profissão tão essencial como o Jornalismo que nos mantêm informados do que se passa à nossa beira e mais longe, teve que também se adaptar a este novo balanço proporcionado pela Internet.

Esta profissão nunca foi considerada estável, seja pela sua própria base de existência, a realidade social (a imensidade dos factos da vida), seja pelos seus métodos de produção noticiosa que dependem, também, da técnica. Hoje em dia a tecnologia é um bem precioso para todas as pessoas, o jornalismo, como já referido, não pode deixar a corrente da modernidade rular sem ele estar inserido, ele está sempre a actualizar-se. Actualiza-se claro está nas notícias, sendo uma das mais importantes vertentes do conteúdo noticioso, a actualidade, mas actualiza-se também no seu método de trabalho.

Assim verifica-se uma imensa relação entre o jornalismo e as mais diversas tecnologias digitais – sendo neste caso o computador pessoal e a Internet, daí se denominar de Jornalismo assistido por computador. JAC é basicamente ter a ajuda do Computador, principalmente da Internet, para o processo de “news-gathering”, Garrison (1998) afirma que Computer assisted Reporting (CAR) é “anything that uses computers to aid in the news-gathering process”. A Internet usada correctamente pode ser uma grande vantagem para o jornalismo, no entanto usada incorrectamente, é uma perda de tempo e quando não se verifica as fontes, põe-se em perigo a veracidade jornalística.

As consequências da Internet para o campo da comunicação são intermináveis e atingem em cheio o jornalismo. Passa a existir a dúvida se os textos informativos que podem ser encontrados na World Wide Web podem ser classificados na rubrica dos géneros narrativos. Estudos recentes mencionam essas publicações como Jornalismo Assistido por Computador (JAC), a partir da contribuição inglesa de Computer Assisted Journalism (CAJ), que traduz as inovações que o computador veio trazer ao jornalismo nas suas diferentes vertentes, desde a captação de notícias até o respectivo tratamento e distribuição das mesmas. “O computador por si representa já um instrumento extraordinário de fazer Jornalismo, mas um computador ligado à Internet será cada vez mas imprescindível na profissão. Em rede um computador acede a fontes de informação, diversas e longínquas, que contextualizam as informações obtidas de fontes directas e próximas. Receber notícias directamente das agências noticiosas, buscar informação na Internet é algo trivial que um computador possibilita, trivialidade que, no entanto, altera radicalmente, a forma de investigar, tratar e redigir as notícias próprias.” (Fidalgo, 2002:2).

A primeira vez que foi de facto utilizado o Jornalismo assistido por computador foi em 1952, nas eleições presidenciais, quando a CBS empreendeu a Remington Rand UNIVAC para prever o desfecho da corrida entre Eisenhower e Stevenson. Uma década depois, pioneiros como Philip Meyer e Elliot Jaspin começaram com sucesso a implementar esta técnica. Portanto nos anos 80, cada jornalista já possuindo o seu computador, podia já começar a ter esta ajuda nas suas tarefas. “Nos tempos actuais, o desenvolvimento do jornalismo irá fundamentar-se numa maior aplicação da tecnologia digital na produção noticiosa.” (Lage, 2002 : 154).

É então compreensível que as técnicas jornalísticas sigam os passos do desenvolvimento tecnológico. "The reporting preceded the technology. If there had been no computers available for the Detroit riot survey, I would have used a punched-card sorter" (Meyer, personal communication, November 16, 1999). Ou seja, apesar da progressão das tecnologias e de todas as ajudas que o jornalismo pode ter agora para conseguir sobreviver numa sociedade também mais exigente, são sempre as técnicas bases, investigar, procurar, estar atento e actual, que vão dominar o Jornalismo, "Technology on its own doesn't do anything. You have to have a story idea and skills and the interest in order for the technology to be mobilized...It's reporters and stories that drive computer-assisted reporting." (Mellnik, personal communication, November 16, 1999).

“Qualquer observador dirá, sem esforço, que a introdução dos computadores modificou bastante a prática do Jornalismo. Alguém que estude bem o assunto, no entanto, concluirá que essa modificação é mais profunda do que parece à primeira vista e que o processo de mudanças está longe de terminar: na verdade, promete tornar-se permanente.” (Lage, 2002: 108). O que acontece é que se está a tentar iniciar a inserção do estudo de JAC no Reino Unido, no entanto muitas pessoas continuam a contestar que este não deve ser ensinado pois é supostamente algo que não carece de aprendizagem, ou que não é necessário. Para além disso, mesmo que se conseguisse implementar uma disciplina para a aprendizagem desta técnica de pesquisa, não há suficientes profissionais que de facto entendam este novo bem para o jornalismo. Mas que JAC veio para “ficar” é actualmente um facto.